Impressiona-me o que nós conseguimos retirar de proveito de muitos mitos da antiguidade,
acredito que muitos deles foram escritos e contados por sábios que esperavam
que tirássemos o melhor proveito deles, mesmo que às vezes acabemos por tirar o
pior, penso que as intenções eram as melhores. E por se tratar o mito de um
meio propício para muitas interpretações, se faz mister termos bastante cautela
ao interpretarmos um mito ao “pé da letra”, pois precisamos analisar o que ele
nos diz e com isso trazermos para a realidade humana e vermos como podemos melhor
utilizá-lo ou mesmo descartá-lo.
Pois bem, tendo os propósitos do mito aqui sugeridos, uma
singela releitura do mito da criação do homem e da mulher pela visão bíblica
contidos em “Genesis”, será aqui apresentada, com o intuito de aproveitarmos a
contribuição mitológica, por tanto desconsiderando assim a parte que compete à
interpretação mística.
“E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a
árvore do jardim comerás livremente, Mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal, dela não comerás, porque no dia em que delas comeres, certamente
morrerás.” Genesis 2: 16,17.
Comumente não é bem isso que ocorre pelos diversos cantos
do mundo em que a alienação se faz presente? São-nos oferecidos diversos produtos
para que possamos consumir e acreditarmos que estamos nos “Jardins do Éden” e
que tudo é perfeito, mas o que nós precisamos e o que a alma anseia, nos é
negado, é proibido. Contudo, em algum momento conseguimos tomar consciência de
que não queremos mais alimentar somente o corpo, pois ansiamos por
conhecimento, aquele conhecimento que nos é negado. O alimento da alma.
“Então a serpente disse a mulher: Certamente não
morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os
vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo do bem e do mal. [...] Então foram
abertos os olhos de ambos; e conheceram que estavam nus, e coseram folhas de
figueira e fizeram para si aventais.” Genesis 3: 4, 5,7.
O “Jardim do Éden” e a nudez apresentada no mito, pode
ser vista como uma alegoria à mente nua, vazia de conhecimento, em um estado
cômodo, sem anseios. Não obstante, é preciso enfrentar o medo da punição que
virá com fruto proibido, para tomar consciência de nossa nudez e nos cobrirmos
com o conhecimento. Mesmo que muitas vezes sejam apenas folhas de figueira.
Nosso sistema social é muito cruel, mas algo me faz crer
que esse sistema problemático continua o mesmo de anos longínquos, com algumas
melhorias para mascarar a essência cruel que permeia o sistema. Ao longo da
história humana sempre foi utilizado diferentes formas de dominação às massas,
eu estou me referindo a apenas uma delas: alienação. Que costuma ser um pouco
mais sutil, porém existe inúmeras formas de dominação e talvez a mais utilizada
ao longo das eras seja o medo.
“E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e
a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu
marido, e ele te dominará. [...] No suor de teu rosto comerás o teu pão,
até que te tornes à terra, por que dela foste tomado, porquanto és pó e em pó
te tornarás . [...] O Senhor Deus, pois, o lançou para fora do Jardim do Éden,
para lavrar a terra de que fora tomado.” Genesis 3:16,19,22,23.
O medo e o temor produzidos aqui nesse mito de 4.000 anos
atrás será o mesmo medo provocado às massas para que sintam temor das mudanças,
para que queiram ficar no “Jardim do Éden”, e se saírem, que anseiem em voltar
sentindo medo de continuar comendo do “fruto proibido”.
“Deus” após descobrir que comeram da árvore do
conhecimento, como castigo retira todas as regalias de Adão e Eva,
retira-os do paraíso, os expulsa do paraíso para que arquem com as
consequências do que eles pediram: a consequência do conhecimento. Em outras
palavras é o mesmo que dizer: ”se querem o conhecimento, tudo bem, mas vou lhes
contar tudo que acompanha o conhecimento, todas as pedras no caminho que irá
percorrer.”
A punição de “Deus” no mito não foi assim tão dura penso
eu, acredito que nem mesmo possa se considerar uma punição, mas um alerta sobre
os acontecimentos que irão permear os caminhos que os dois escolheram. O
problema é a má interpretação do mito, á a mensagem distorcida cheia de
julgamentos e tentativas de controle social. Porque ao trazer uma perspectiva
de 4.000 anos atrás à tona, não podemos desconsiderar a cultura que havia
naquele momento para entendermos as palavras que foram usadas.
Veremos aqui outra problemática em torno do mito, o de
consideramos o sentido literal do mito, “ao pé da letra”. Veremos que Deus
condena o homem ao trabalho árduo e a mulher a uma dona de casa submissa ( não
é bem isso que acontece em alguns países do oriente ? ), quando eu acredito que
na verdade a mensagem do mito é que ao sairmos da inocência ignorante ,
desprovida de conhecimento, novos problemas virão, novas complicações a serem
resolvidas, o trabalho para lidar com as novas situações será maior, e acima de
tudo, a responsabilidade que lhe será cobrada será muito maior. Acredito que
quem tenha proferido esse mito pela primeira vez, usou a personagem de “Deus”
para exercer vários papeis ao longo do mito para que essa mensagem fosse
compreendida.
Por tanto, ao analisarmos um mito é de suma importância
que entendamos o contexto em que foi escrito, para quem foi escrito e onde foi
escrito, para que possamos retirar a melhor essência dele, sem cairmos no erro
de tentar seguir os costumes ditados em um mito de 4.000 anos atrás, mas
perceber que nas entrelinhas podemos identificar grandes ensinamentos a cerca
de fatos e fatores sociais que ocorrem no âmbito social ao longo das eras.
Notas: Para visualizar o mito por completo pode visitar o site : http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1
Notas: Para visualizar o mito por completo pode visitar o site : http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1
Muito boa análise cara! Eu nunca havia pensado dessa forma. Muito bom ver tu desenvolvendo essas ideias. É como já dizia Marx: "A história do homem é a história da luta de classes", a roda da história gira baseada no antagonismo de grupos sociais, onde a ideologia da classe dominante é a ideologia de toda sociedade. Só através do socialismo acabaremos com o antagonismo de classes! Fica a dica aí! hehe
ResponderExcluirGrande Abraço
Vlw aí meu querido pelo comentário. Como você disse a história é construída ainda dentro do antagonismo de grupos sociais, até porque culturalmente a divergência entre as nações são muito grandes, a começar pelo processo histórico de cada nação ter sido de forma diferente, e é exatamente por isso que eu acredito que a mesma abordagem não possa ser utilizado à todas as nações, como aconteceria por exemplo ao estabelecer o socialismo como meta para acabar com o antagonismo de classes. Contudo vejo o socialismo como uma grande abordagem dentre muitas outras para conseguirmos algum dia acabar com esse antagonismo de classes.
ResponderExcluirAbração