segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Mito de Adão e Eva



            Impressiona-me o que nós conseguimos retirar de proveito de muitos mitos da antiguidade, acredito que muitos deles foram escritos e contados por sábios que esperavam que tirássemos o melhor proveito deles, mesmo que às vezes acabemos por tirar o pior, penso que as intenções eram as melhores. E por se tratar o mito de um meio propício para muitas interpretações, se faz mister termos bastante cautela ao interpretarmos um mito ao “pé da letra”, pois precisamos analisar o que ele nos diz e com isso trazermos para a realidade humana e vermos como podemos melhor utilizá-lo ou mesmo descartá-lo.
            Pois bem, tendo os propósitos do mito aqui sugeridos, uma singela releitura do mito da criação do homem e da mulher pela visão bíblica contidos em “Genesis”, será aqui apresentada, com o intuito de aproveitarmos a contribuição mitológica, por tanto desconsiderando assim a parte que compete à interpretação mística.
            “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás, porque no dia em que delas comeres, certamente morrerás.” Genesis 2: 16,17.
            Comumente não é bem isso que ocorre pelos diversos cantos do mundo em que a alienação se faz presente? São-nos oferecidos diversos produtos para que possamos consumir e acreditarmos que estamos nos “Jardins do Éden” e que tudo é perfeito, mas o que nós precisamos e o que a alma anseia, nos é negado, é proibido. Contudo, em algum momento conseguimos tomar consciência de que não queremos mais alimentar somente o corpo, pois ansiamos por conhecimento, aquele conhecimento que nos é negado. O alimento da alma.
            “Então a serpente disse a mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo do bem e do mal. [...] Então foram abertos os olhos de ambos; e conheceram que estavam nus, e coseram folhas de figueira e fizeram para si aventais.” Genesis 3: 4, 5,7.
            O “Jardim do Éden” e a nudez apresentada no mito, pode ser vista como uma alegoria à mente nua, vazia de conhecimento, em um estado cômodo, sem anseios. Não obstante, é preciso enfrentar o medo da punição que virá com fruto proibido, para tomar consciência de nossa nudez e nos cobrirmos com o conhecimento. Mesmo que muitas vezes sejam apenas folhas de figueira.
            Nosso sistema social é muito cruel, mas algo me faz crer que esse sistema problemático continua o mesmo de anos longínquos, com algumas melhorias para mascarar a essência cruel que permeia o sistema. Ao longo da história humana sempre foi utilizado diferentes formas de dominação às massas, eu estou me referindo a apenas uma delas: alienação. Que costuma ser um pouco mais sutil, porém existe inúmeras formas de dominação e talvez a mais utilizada ao longo das eras seja o medo.
            “E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. [...] No suor de teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra, por que dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás . [...] O Senhor Deus, pois, o lançou para fora do Jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.” Genesis 3:16,19,22,23.
            O medo e o temor produzidos aqui nesse mito de 4.000 anos atrás será o mesmo medo provocado às massas para que sintam temor das mudanças, para que queiram ficar no “Jardim do Éden”, e se saírem, que anseiem em voltar sentindo medo de continuar comendo do “fruto proibido”.
            “Deus” após descobrir que comeram da árvore do conhecimento, como castigo retira todas as regalias de Adão e Eva, retira-os do paraíso, os expulsa do paraíso para que arquem com as consequências do que eles pediram: a consequência do conhecimento. Em outras palavras é o mesmo que dizer: ”se querem o conhecimento, tudo bem, mas vou lhes contar tudo que acompanha o conhecimento, todas as pedras no caminho que irá percorrer.”
            A punição de “Deus” no mito não foi assim tão dura penso eu, acredito que nem mesmo possa se considerar uma punição, mas um alerta sobre os acontecimentos que irão permear os caminhos que os dois escolheram. O problema é a má interpretação do mito, á a mensagem distorcida cheia de julgamentos e tentativas de controle social. Porque ao trazer uma perspectiva de 4.000 anos atrás à tona, não podemos desconsiderar a cultura que havia naquele momento para entendermos as palavras que foram usadas.
            Veremos aqui outra problemática em torno do mito, o de consideramos o sentido literal do mito, “ao pé da letra”. Veremos que Deus condena o homem ao trabalho árduo e a mulher a uma dona de casa submissa ( não é bem isso que acontece em alguns países do oriente ? ), quando eu acredito que na verdade a mensagem do mito é que ao sairmos da inocência ignorante , desprovida de conhecimento, novos problemas virão, novas complicações a serem resolvidas, o trabalho para lidar com as novas situações será maior, e acima de tudo, a responsabilidade que lhe será cobrada será muito maior. Acredito que quem tenha proferido esse mito pela primeira vez, usou a personagem de “Deus” para exercer vários papeis ao longo do mito para que essa mensagem fosse compreendida.
            Por tanto, ao analisarmos um mito é de suma importância que entendamos o contexto em que foi escrito, para quem foi escrito e onde foi escrito, para que possamos retirar a melhor essência dele, sem cairmos no erro de tentar seguir os costumes ditados em um mito de 4.000 anos atrás, mas perceber que nas entrelinhas podemos identificar grandes ensinamentos a cerca de fatos e fatores sociais que ocorrem no âmbito social ao longo das eras. 



Notas: Para visualizar o mito por completo pode visitar o site : http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1


2 comentários:

  1. Muito boa análise cara! Eu nunca havia pensado dessa forma. Muito bom ver tu desenvolvendo essas ideias. É como já dizia Marx: "A história do homem é a história da luta de classes", a roda da história gira baseada no antagonismo de grupos sociais, onde a ideologia da classe dominante é a ideologia de toda sociedade. Só através do socialismo acabaremos com o antagonismo de classes! Fica a dica aí! hehe

    Grande Abraço

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  2. Vlw aí meu querido pelo comentário. Como você disse a história é construída ainda dentro do antagonismo de grupos sociais, até porque culturalmente a divergência entre as nações são muito grandes, a começar pelo processo histórico de cada nação ter sido de forma diferente, e é exatamente por isso que eu acredito que a mesma abordagem não possa ser utilizado à todas as nações, como aconteceria por exemplo ao estabelecer o socialismo como meta para acabar com o antagonismo de classes. Contudo vejo o socialismo como uma grande abordagem dentre muitas outras para conseguirmos algum dia acabar com esse antagonismo de classes.
    Abração

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